Na terceira reportagem da série especial do Jornal das Dez, os cardeais brasileiros que participarão do Conclave analisam os escândalos recentes na Igreja. A decisão de enfrentar os problemas foi um ato de coragem – dizem eles. Mas já há análise de que esse enfrentamento colocou em risco não só o pontificado, como também a vida de Bento XVI.
Ao falar nesta quarta-feira pela última vez em público, Bento XVI afirmou que enfrentou “águas agitadas” durante o papado. Uma referência aos escândalos e polêmicas que marcaram o curto pontificado – que começou em 2005.
Para dom Geraldo Majella, Bento XVI foi corajoso ao mudar a atitude da Igreja em relação aos casos de pedofilia. “Ele já colocou: não pode haver convivência. Uma vez que tenha o caso, ele deve ser tratado assim drasticamente. Imediatamente tem que ser deposto da sua função e deposto totalmente, não pode assumir mais nenhum exercício da sua missão como sacerdote”, observou o cardeal emérito de Salvador.
Uma orientação simples. Mas de aplicação complexa. O cardeal emérito de Los Angeles, Roger Mahony, é acusado de ter protegido padres que abusaram sexualmente de crianças. Mas, pelas regras da Igreja, nada impede que ele participe do Conclave que escolherá o próximo papa.
“Pelo direito canônico ele tem menos que 80 anos e tem direito de participar”, disse dom Raymundo Damasceno.
“Eu penso que tudo isso é da responsabilidade dele. Ele que terá que resolver isso em consciência”, completou dom Cláudio Hummes.
Até o início do ano passado, o fantasma da pedofilia atormentava o Vaticano. De lá pra cá, surgiram novos escândalos. O jornal italiano Il Fatto Quotidiano, revelou que havia um complô para assassinar Bento XVI. A informação foi atribuída ao cardeal de Palermo, Paolo Romeo. O Vaticano negou. Mas foi a partir daí, que as intrigas internas da Santa Sé ficaram expostas.
Em fevereiro, foi denunciado o vazamento de documentos sigilosos que apontavam corrupção nos negócios da Igreja. O mordomo Paolo Gabrielle foi apontado como culpado.
Ao Jornal das Dez, o cardeal de Salvador admite, pela primeira vez, que o escândalo que ficou conhecido como Vatileaks colocou a vida do Papa em risco.
J10 – O senhor acha que o Papa Bento XVI, ao tocar o dedo na ferida desses dossiês, desse escândalo do mordomo, ele corria risco de vida?
Dom Geraldo Majella - Continuava a correr.
Meses depois, a demissão do presidente do Banco do Vaticano foi mais uma pedra no sapato vermelho de Bento XVI.
“O Papa Bento XVI foi muito corajoso. Tomou decisões rigorosas. O presidente chegou a ser demitido, por razões que eu não saberia dizer. Mas ele quis, e ordenou que o banco obedecesse todas as normas da Comunidade Européia”, disse o cardeal de Aparecida.
J10 – O próximo papa terá que colocar o dedo na ferida para resolver essas questões?
Dom Cláudio Hummes - Com certeza. Isso sim. Isso será um desafio muito grande.
Fonte: portal G1
Um comentário:
Cabe aos católicos não permitir que a Igreja se torne mais uma empresa cujo Deus é o dinheiro e o protagonista, a Trindade que eles tanto crêem, seja apenas instrumento nas mãos de inescrupulosos que fazem da vida um desencantamento só.
PS- não tenho religião.
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