quinta-feira, 25 de setembro de 2014

“Eu não vou morrer, vou virar tinta”

Com as tintas do dever cumprido

Publicado em 25/09/2014

Jornal O Diário


ANTÔNIO FILHO/DIVULGAÇÃO
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Reprodução Facebook
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Patrícia Bueno

"Sou artista plástica, minha inspiração vem da pobreza, injustiça social. Faço protestos, denúncias em prol dos oprimidos e excluídos e em prol de nossa cultura. Sou povo, pinto o povo e para o povo...". As palavras de Tetê Rego, em seu perfil na rede social, revelam um pouco sobre o trabalho da artista plástica, que faleceu na madrugada desta quinta-feira, em Campos, aos 77 anos de idade. 

Tetê, que estava internada a cerca de duas semanas (depois de sofrer um infarto em sua residência), era mesmo uma artista apaixonada pela arte, tanto que costumava dizer: "não vou morrer, vou virar tinta". No ano passado, a artista arrancou aplausos ao pronunciar a frase no Teatro Sesi, onde foi homenageada pelo Dia Internacional da Mulher. 

Ela foi a escolhida para representar as mulheres campistas pelo seu trabalho. Na ocasião, levou para o local uma exposição com 22 quadros em acrílica sobre tela, mesclando temas que passeavam entre o abstrato e, claro, as denúncias. Em entrevista a O Diário, na época da homenagem, Tetê revelou que suas ferramentas preferidas para pintar eram os seus próprios dedos. "Adoro sujar as mãos", brincou a artista.

Tetê Rego era uma artista engajada. Fazia de sua arte um meio de protesto. É autora da tela que mostra um trator destruindo o antigo Trianon. Torcedora fanática do Goytacaz, na década de 90 também encabeçou uma campanha para ajudar o clube. 

Em sua última visita ao Teatro Trianon (foto acima), posou ao lado da tela que pintou em 1989. A obra, onde retrata o antigo Cine Theatro Trianon sendo demolido, foi uma espécie de marco inicial na luta para a construção do novo teatro, inaugurado em 31 de julho de 1998. 

Mesmo com o olhar sempre crítico e seu pincel denunciador, Tetê nunca perdeu a doçura para tratar as pessoas. Muito pelo contrário. O olhar generoso revelava alguém de alma caridosa, que sabia se colocar no lugar do outro. Sua série retratando os cortadores de cana, a exploração e a miséria em que viviam, é um exemplo de que ela falava pelos humildes quando passava para as telas suas impressões sobre o mundo. E foi com as mãos sujas de tinta e o pensamento cheio de compaixão que Tetê Rego deu vida à maior de suas obras: o amor ao próximo.

Atualização para inclusão do vídeo de Katiana

Video Katiana - Homenagem a Tetê Rêgo from Imagem e Cia on Vimeo.

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