sexta-feira, 12 de abril de 2013

ANALISTAS DISCUTEM AJUDA PÚBLICA À INICIATIVA PRIVADA

Opiniões são divergentes sobre possível auxílio às empresas do bilionário Eike Batista

As empresas de Eike Batista não vão bem. Anúncios de produção abaixo das metas, prejuízos financeiros, atrasos e um brutal declínio na Bolsa de Valores de São Paulo, onde os papéis da OGX, a maior das empresas do conglomerado, acumula recuo de mais de 66% apenas em 2013. Em meio às notícias ruins, um aparente alívio vindo da Petrobras deixou especialistas desconfiados. Na última terça (9), a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, anunciou que mantém conversas com a LLX Logística, mais uma das propriedades do bilionário, para utilizar as instalações do Porto do Açu, no Rio de Janeiro.

A presidente foi rápida ao afirmar que tratava-se de um "negócio" e não de uma ajuda. “O grupo X é um dos que estamos avaliando para projetos a serem atendidos no médio e longo prazos”, disse a executiva. Sendo ou não ajuda, a LLX já agradece. No mesmo dia, seus papéis na Bovespa subiram 6,74% e, na semana, já acumulam ganhos de 10,78%.
A coincidência com que as negociações entre as empresas vieram a público, em um momento ruim para o bilionário - rumores dão conta de que a OGX pode falir - levantou novamente o debate sobre como as empresas e bancos públicos do país, principalmente o BNDES e a Petrobras, devem intervir e ajudar instituições privadas.

Sérgio Lazzarini, pós-doutor em Administração pela Harvard University e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), acredita que há um exagero no financiamento oferecido pelo BNDES, que, segundo ele, acaba destinando recursos para empresas que poderiam se capitalizar no mercado privado.

"As empresas grandes não precisam de capital público, exceto se for para algum projeto de infra-estrutura que vá beneficiar uma grande parte da população, que vai ter o famoso retorno social. E nem é para todos os projetos de infra-estrutura. Existem investimentos como em aeroportos de grande movimentação, portos de circulação alta, por exemplo, em que sempre há interesse privado, já que os retornos são altos. Acho que o financiamentodeveria ser feito mais no interior, em lugares de difícil acesso, que não recebem nada", opina.

Eike e Petrobras: "Estranho"

O especialista critica também a postura da Petrobras em relação ao conglomerado da OGX, que ele acredita ser "estranha". "Eles anunciam este negócio justo no momento em que Eike está mal. É muito estranho. É preciso saber o momento de sair, deixar os perdedores perderem. Estes recursos têm que ser usados para beneficiar o bem público, para tecnologia, pequenas empresas e não grande conglomerados", analisa.

O economista Mansueto Almeida, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), faz coro e critica a possível ajuda ao conglomerado de Eike. "Se a empresa é boa, mesmo que esteja passando por dificuldades, sempre haverá o interesse de outra para comprar, fundir, reformular. Alguém vai se interessar, não precisa de salvação do governo. No caso do Eike é a mesma coisa. Não precisa o governo ajudar. Se a empresa for boa e consistente, alguém vai comprar ou ela vai conseguir se recuperar", afirma.

Nem tão estranho

Fernando Sarti, diretor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/Unicamp) discorda dos especialistas. Ele vê "com tranquilidade" o aporte de recursos de bancos públicos às grandes empresas e afirma que este tipo de financiamento, além de não excluir o das pequenas e médias, beneficia toda a economia do país.

"Há um entendimento de que é importante para o país que se tenham grandes empresas, que elas sejam competitivas com inserção internacional, que elas possam ter uma participação importante na cadeia produtiva global. Não tem problema nenhum que o BNDES ofereça grandes recursos para estas empresas: elas geram emprego, pagamento de tributos maiores, além delas comprarem de outras empresas nacionais menores, que também crescem, gerando mais empregos e mais tributos", explica.

O economista explica que um dos motivos pelo qual o Estado acabou assumindo a função de financiador foi pela "falta de tradição" dos bancos brasileiros de financiar a longo prazo. "Ninguém impede que os bancos privados tenham uma atuação mais a longo prazo, mas você não tem estas linhas de financiamento para investimento a longo prazo, já que é muito arriscado. O mercado prefere outras atividades, então coube ao BNDES financiar a indústria e infra-estrutura, ao Banco do Brasil o financiamento agrícola e à Caixa a construção, basicamente", analisa.

Em relação a Eike, o diretor também não se surpreende. Para ele, é uma forma natural de se ajudar uma grande empresa, como qualquer outra. "Precisamos, claro, cobrar transparência e clareza nas negociações, mas, tratando-se de uma relação limpa, não vejo problema. O porto de Açu é super estratégico, então, provavelmente vai ser bom para a Petrobras também", conclui.

Fonte: Jornal do Brasil online

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