Mais um textinho meu, tirado da gaveta. Desta vez para lembrar que nossas liras ainda agonizam... Uma semana afinada para todos!
Música para meus ouvidos
A calçada separa a sempre movimentada Rua Formosa, da escadinha que nos leva à sala do piano. Subir por aqueles degraus é ir ao encontro de um tempo glorioso. Tempo das retretas, da música enquanto expressão da alma, algo bem distante daquilo que hoje se entende por popular.
A sala, neste segundo pavimento, está fechada. Não contendo meu fascínio por prédios antigos, observo o ambiente através do vidro: o velho piano, as cadeiras comportadamente enfileiradas, rostos emoldurados em antigas fotos espalhadas pelas paredes claras, uma envolvente atmosfera de passado. A sala silenciosa e vazia parece guardar os sons dos inúmeros recitais que ali aconteceram ao longo dos anos.
Um outro lance de escadas me espera. Na subida, o barulho da rua cede lugar às melodias que saem dos intrumentos dos músicos da Sociedade Musical Operários Campistas. É uma noite especial. Noite de aniversário.
A banda capricha no repertório. São dobrados, canções populares, frevo, carimbó, samba. A mistura empolga o público, que lota a sala da sede da lira, decorada em estilo antigo, com fotos e móveis de época como uma bela cristaleira do
tempo da vovó.
Em uma cidade preocupada com seu patrimônio, a data mereceria uma comemoração em grande estilo. Não que não tenha sido. Para quem teve o privilégio de participar foi realmente ótimo. Mas me refiro a uma comemoração em um local onde o máximo de pessoas pudesse apreciar a apresentação, afinal, é um orgulho ter uma banda centenária fazendo parte da trilha sonora da cidade.
Pois são justamente as dificuldades que fazem de seus integrantes mais do que músicos, e sim, bravos guerreiros. Trazem no repertório a falta de incentivos, mas não se dão por vencidos. Por isso estavam lá, naquela noite memorável, com seus uniformes e instrumentos, regidos pelo amor à música e às tradições, a despeito de nossas desafinadas políticas culturais.
Felizmente o descaso ainda não conseguiu calar as nossas bandas, que sobrevivem, sob a batuta de incansáveis músicos. Vida ainda mais longa às liras! Para que as próximas gerações possam ter o privilégio de acompanhar a passagem de seus históricos aniversários. A passagem de 117 anos da Operários Campistas foi mais do que um evento. Soou como música em meus ouvidos.
Monitor Campista - Quarta,03/06/2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário