quinta-feira, 6 de junho de 2013

O poder de destruição do pré-julgamento





Por Pedro Jesus Silva
Presidente do Coren-RJ

Julgar sem bem analisar ou emitir opinião vazia de embasamento virou uma perigosa moda. A irresponsabilidade chegou à melhor e mais conceituada imprensa, que não aguarda a apuração cuidadosa e isenta, preferindo atropelar os fatos com as versões mais escandalosas, mas que lhe garantam maior pontuação na audiência. Esquecem que, por detrás dos dramas, existem pessoas, seres humanos que vivem em sociedade e são cobrados sem descanso por ela.

Em outubro de 2012, após um ataque de histeria coletiva, resolveu-se que uma idosa teria morrido após receber café com leite na veia, injetado pela estagiária Rejane Moreira Teles, no PAM de São João de Meriti, agindo sob a coordenação de negligentes profissionais da enfermagem. A estagiária acreditou ter cometido o erro fatal, tanto que se submeteu espontaneamente ao linchamento moral promovido pela emissora líder, numa entrevista em rede nacional em seu programa dominical de grande audiência. O episódio acabou por respingar em toda a categoria, que virou alvo de piadas e, mais do que nunca, rotulada de displicente e despreparada. Naquela época, o Coren-RJ negou-se a dar entrevista exatamente por não contar com dados que apontassem conclusivamente para o que realmente ocorrera.

Hoje, diante do laudo assinado por um perito legista, constata-se a covarde injustiça cometida contra uma jovem que sequer se iniciara numa profissão e já ficara marcada como negligente: no laudo cadavérico da Sra. Palmerina Pires Ribeiro (80 anos) não foram “evidenciados sinais de embolia gordurosa cardíaca e pulmonar”, afastando a possibilidade de a paciente ter recebido café com leite por via venosa. O exame classifica como causas do óbito infecção pulmonar e infecção urinária, patologias que não indicam ocorrência por injeção intravenosa de café com leite.

Ou seja: a estagiária não errou, mas teve seu futuro profissional subtraído por uma mídia sedenta de audiência, que não pratica um dos principais mandamentos do bom jornalismo que é a apuração isenta e responsável da notícia.

Atualmente, vemos um profissional da enfermagem fluminense envolvido em um grande escândalo. Não podemos afirmar que o técnico de enfermagem, hoje acusado de cometer abuso sexual contra duas pacientes, é culpado ou inocente. A história é controversa e há de se investigar muito para chegarmos à verdade. Se ele cometeu os crimes, a justiça fará sua cobrança, enquanto o Coren-RJ realizará seu julgamento ético. Mas, se ele for inocente? Seu nome já foi divulgado, sua face estampada pelas tevês, sites e jornais. Como recuperar a dignidade perdida pelo pré-julgamento e condenação sumária da mídia e, o que é pior, de seus próprios colegas de profissão?

Culpado ou inocente, este homem, profissional da enfermagem, tem direito a apresentar a versão em sua defesa. Como presidente do Coren-RJ peço que a enfermagem evite emitir opiniões de puro achismo. A frase irresponsável postada hoje poderá ser mais um golpe cruel contra um inocente.



Da blogueira: Vamos aguardar  a apuração do caso do técnico. Meu objetivo com esta postagem foi divulgar o caso do café com leite. Desconhecia que posteriormente houve esse laudo inocentado a  então estagiária de enfermagem. 
Infelizmente à sua  comprovação de inocência  não foi dado  o mesmo destaque por parte da mídia. Faço a minha parte.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quemm não se lembra tambem de ~uma escola em São paulo cujos donos foram acusados seriamente com relação à uma criança e posteriormente constatou-se sua inocencia?
Neste país é assim, jogar para a galera é fácil, talvez sirva , espertamente, para desviar a atenção da população de verdadeiros quadrilehiros, que mesmo condenados , vão presos enquanto inocentes , ou supostos inocentes condenados apriori são execrados.

Anônimo disse...

Parabéns, Jane